A necessidade
do apego – Laura Gutman
Os mamíferos jovens se apegam a um adulto que lhes inspira
confiança quando se sentem inseguros. Alguns pais se irritam quando seus filhos
são apegados, os animais não.
Quando uma criança se agarra a um adulto, ela tenta reduzir
o seu alto grau de excitação física e seus elevados níveis de substâncias
químicas estressantes. Ao mesmo tempo, tenta ativar as preciosas substâncias
cerebrais que produzem sentimentos de bem-estar. Ela não pode conseguir sem sua
mãe, que é sua base neuroquímica infalível. A criança não é mimada nem quer
“chamar a atenção” quando se agarra. Ela se sente insegura e procura ajuda. Ao
agarrar-se, ela pretende um equilíbrio emocional mais tranquilo e positivo.
O que revelam as pesquisas
Os estudos demonstraram que quando a criança cumpre um ano,
as mães que tinham atendido rapidamente o seu choro tinham filhos que choravam
muito menos que aquelas que haviam optado por deixar chorar. Apesar que alguns
pensam que as crianças se apegam porque foram muito mimadas e queridas, “mal
acostumados” por excesso de atenção, não há provas que corroborem a teoria
segundo a qual o apego ansioso é resultado do afeto e atenção excessivas por
parte dos pais.
O apego prolongado é muito mais provável quando os pais não
responderam bem às necessidades de dependência do seu filho. Alguns pais
obrigaram a criança a ser independente enquanto ela ainda não se encontrava
geneticamente madura para isso.
Quando deixa de ser apegado?
Os pais muitas vezes temem que o desconsolo de seus filhos
no momento da separação não desapareça. Mas, quem ouviu falar de um adolescente
que se desfaça em lágrimas quando seus pais lhe dizem que vão ao cinema de
tarde? Quando a criança cresce, o sistema de angústia da separação do seu cérebro
inferior se debilita de forma natural. Na puberdade, o aumento de testosterona
e de estrogênios o suprimem mais ainda. A afirmação: “Se aceito que ele se
apegue tanto agora, ele nunca vai ser independente” é inexata em termos de
desenvolvimento físico e cerebral da criança.
Algumas crianças que não receberam uma resposta
emocionalmente válida entram num estado de falsa independência. Eles têm
profunda vergonha de sentir uma necessidade desesperada de afeto e deparar-se
com um rechaço ou uma crítica, ou que lhes digam que já são grandinhos para
isso. Para fazer frente a essa dor, algumas crianças adotam uma atitude de:
“Não preciso da mamãe!”, endurecem seus corações e desenvolvem uma
insensibilidade emocional para suas necessidades afetivas. Isso pode provocar
todo tipo de problemas, de amores atormentados ao medo às relações íntimas na
idade adulta.
Se o seu filho se agarra a você, lembre-se do grande
investimento que você fará na sua saúde mental a longo prazo se você lhe
responde com afeto e consolo. Lembre-se dos efeitos duradouros anti-estresse da
ativação da ocitocina, que deriva do afeto físico. Lembre-se dos estudos de
outros mamíferos, que demonstram que os bebês que recebem carícias afetuosas
são mais capazes de afrontar o estresse, apresentam respostas muito menos
temerosas frente à vida, são psicologicamente mais fortes e até envelhecem
melhor!
Tradução de um capítulo do livro The Science of Parenting
Tradução de Bel Kock-Allaman
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